- Inovação
O ano é 2003. O local, a Universidade da Califórnia, em Berkeley, Estados Unidos. O professor Henry Chesbrough apresenta aos seus colegas e alunos o termo Open Innovation, e anuncia que está lançando um livro: The New Imperative for Creating and Profiting from Technology, da HBS Press. É o começo da transição para um modelo que, no Brasil, ficaria conhecido como Inovação Aberta.
Vinte anos depois, chegamos à 2023 e enxergamos a concretização de um mercado cada vez mais global. Grandes empresas apostaram no modelo de Inovação Aberta conectando-se a startups de diversos continentes. A Samsung, por exemplo, criou o Samsung Creative Startups, um programa que acelera novos negócios em busca de soluções inovadoras. A Vivo, por sua vez, formou uma venture builder própria para investir em startups capazes de ampliar suas fontes de receita.
Mas, recentemente, a bolha das startups se rompeu, resultado de um reajuste no mercado de tecnologia no pós-pandemia de Covid-19. O número de empreendedores dispostos a arriscar tudo por um novo negócio diminuiu, e os investimentos na área tech recuaram. Será esse o fim da Inovação? Será que a inovação Aberta vai perder a sua força? Descubra conosco neste artigo.
O livro lançado por Chesbrough expunha uma análise feita sobre o modelo de gestão da inovação utilizado por grandes empresas norte-americanas no século 20. O PhD percebeu que duas principais crenças guiavam tais corporações:
Esse modelo baseava-se na ideia de que as empresas mais inovadoras, portanto, seriam aquelas com maiores investimentos internos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). De acordo com Chesbrough, no artigo The Era Of Open Innovation publicado pela MIT Sloan Management Review:
“No velho modelo de inovação fechada, as empresas aderiam a seguinte filosofia: a inovação requer controle. Em outras palavras, as companhias precisavam gerar suas próprias ideias, para então desenvolvê-las, fabricá-las, comercializá-las e distribuí-las. Tal abordagem fazia um apelo à autoconfiança: se você quer algo bem-feito, você mesmo deve fazê-lo”.
Durante o século 20, esse tipo de inovação foi essencial para que empresas, como por exemplo a IBM, despontassem no mercado de tecnologia. Porém, com a chegada do século 21, o crescimento do número de trabalhadores do conhecimento, e sua consequente mobilidade, tornou impossível o controle de ideias e expertises pelas organizações.
Ao mesmo tempo, houve também um aumento de investimentos privados (private venture capitals), o que impulsionou o surgimento de novas empresas: as startups. Essas, nasceram dispostas a comercializar ideias que surgiam independente das áreas de P&D, resultantes da difusão do conhecimento proporcionada pela World Wide Web.
O modelo de Inovação Aberta surge, então, adaptado a essa nova realidade. Ele promove a colaboração de empresas com agentes externos, como pessoas, universidades e organizações. Mais do que fornecedores, esses parceiros contribuem para gerar fluxos de conhecimento que aceleram a criação ou melhoria de processos, produtos e serviços.
Chesbrough explica que “o limite entre uma empresa e o ambiente ao seu redor se torna mais poroso, possibilitando que a inovação se mova facilmente entre os dois”. Em seu artigo, ele elenca os Princípios da Inovação Aberta, que devem guiar as organizações que pretendem atuar com tal modelo. Entre eles:
Fonte: The Era Of Open Innovation – MIT Sloan Management Review (2003).
Empresas como a Google não demoraram para apostar no novo modelo, até porque já nasceram nesse contexto efervescente (a companhia foi fundada em 1998). Ferramentas como o Android, o Chrome o Google Maps são fruto da constante colaboração com startups.
Mas a gigante da tecnologia entendeu que a Open Innovation vai além da conexão com tais negócios inovadores. Até porque, às vezes, há pouco tempo para alcançar resultados, e a curva de aprendizado com startups pode ser grande e demorada.
Quando uma corporate precisa inovar em produtos digitais, como aplicativos, plataformas e sistemas, concretizar uma parceria de Inovação Aberta com uma empresa consolidada de tecnologia é a opção mais segura e econômica. Isso porque, em startups o processo de desenvolvimento de software normalmente não está maduro, o que pode resultar em retrabalho, atrasos de cronograma e furos de orçamento.
Além disso, em grandes empresas, a inovação em produtos digitais é, com frequência, do tipo incremental, ou seja: é uma evolução feita em um produto, serviço ou processo já existente, com objetivo de aprimorar o que é especialidade da mesma, para conquistar novos clientes e reter os atuais. Nesses casos, considerar a solução de uma startup pode não ser a melhor solução ou a mais rápida, pois seu foco está em criar, não em evoluir.
De acordo com Osmar. A. M. Pedrozo, CEO da SoftDesign:
“Cabe a cada empresa avaliar qual o melhor modelo de colaboração para inovar em produtos digitais. Mas é sabido que nem tudo que as empresas buscam é inovação radical ou disruptiva. Na verdade, a grande maioria das corporações busca por inovações e melhorias incrementais que melhorem seus produtos e serviços atuais. Neste sentido, será que startups, ainda em estágio inicial de maturidade no desenvolvimento de produtos digitais, são realmente a melhor opção? É importante saber se o que sua empresa busca é inovar adquirindo uma inovação de produto ou serviço, ou se busca inovar usando as melhores formas de fazer esse produto ou serviço. No último caso, parceiros de tecnologia que tenham as melhores práticas para a inovação e desenvolvimento de produtos digitais são os mais indicados para fazê-la acontecer”.
A Inovação Aberta se apresenta como uma importante solução para obter vantagem competitiva em um mercado cada vez mais concorrido. Isso porque ela é capaz de superar algumas das barreiras internas da inovação: a barreira cultural, como por exemplo a intolerância ao erro; a barreira dos recursos, pois existem pessoas totalmente dedicadas ao projeto; e a barreira dos processos, pois muitos negócios ainda sofrem com burocracias desnecessárias e métodos antiquados para atingir os resultados.
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