- Agilidade
Você está precisando aprofundar os seus conhecimentos em Métodos Ágeis? Neste artigo, iremos compartilhar as principais ideias debatidas na segunda edição do Startup Class de 2021. O evento, organizado pela Associação Gaúcha de Startups (AGS), ocorreu no dia 27 de maio e teve como tema os Métodos Ágeis. Scrum, Lean e Kanban foram alguns dos frameworks apresentados pelo designer Dreyson Queiroz. A aula especial também contou com participação do CEO da SoftDesign, Osmar A. M. Pedrozo, que ressaltou a importância da agilidade na rotina de trabalho e na inovação das empresas.
O Startup Class tem como principal objetivo entregar conhecimento aos empreendedores. A iniciativa é da AGS, instituição sem fins lucrativos que trabalha para desenvolver o ecossistema de startups do Estado do Rio Grande do Sul. Os encontros trimestrais trazem convidados especialistas, que ensinam métodos e boas práticas por meio de uma dinâmica de grupo, capaz de colaborar com o processo de desenvolvimento dos empreendedores locais.
Para o designer e facilitador de grupos Dreyson Queiroz, uma das ferramentas mais ágeis que existem é o diálogo. Por isso, há mais de 15 anos, ele estuda abordagens e processos criativos para chegar a soluções de maneira leve e divertida. “Os Métodos Ágeis se comparam muito aos esportes como, por exemplo, as corridas de revezamento: todos precisam estar alinhados e com o mesmo objetivo. Na reta final, por meio de sprints, esses atletas buscam o primeiro lugar no pódio, ou seja, o sucesso do projeto. Esse tipo de competição é coletiva e exige muita colaboração dos participantes”.
De acordo com Queiroz, os Métodos Ágeis se confundem com o Scrum, conceito que vem do Rugby, mas que acabou se perdendo um pouco devido à um pensamento limitante. “As pessoas querem ferramentas capazes de salvar vidas e processos, mas o Rugby e o Scrum são sobre Cultura Ágil. Sem ela, restam apenas as ferramentas, que no caso desse esporte seria o conflito corpo a corpo”, compara.
O designer ressalta que ao enxergamos apenas as ferramentas, iremos compreender mais cedo ou mais tarde que ninguém avança no jogo e na vida profissional sozinho. “O profissional pode ser o melhor da sua área e ainda assim ele precisará do alinhamento e da colaboração da equipe para prosperar. Isso também se aplica ao mundo dos negócios”.
Para ele, falar sobre cultura é o mesmo que falar sobre pessoas, criatividade, inovação e celebração – de progressos dentro do desenvolvimento de produtos e serviços digitais. Além disso, ressalta que os Métodos Ágeis possuem ferramentas, ecossistemas, sistemas e redes. Ou seja, esse é um mundo de transformação, principalmente no contexto de pós-pandemia, onde as empresas precisam girar a chave da transformação digital.
Queiroz alerta que essa esfera está muito envolta numa prática de ferramentas e conhecimentos. Entretanto, existe uma outra esfera muito maior: os princípios. Se uma empresa não tem princípios ágeis ela corre o risco de ser somente mais uma empresa que utiliza ferramentas e métodos. Logo, não poderá ser considerada ágil.
Não basta ter práticas e ferramentas se não há princípios e valores bem definidos, baseados no mindset de como entendemos o trabalho. “Se começarmos a pensar de forma ágil e isso estiver conectado com a cultura da empresa, passaremos a compreender que quanto menos visíveis mais poderosos esses métodos serão. Afinal, o que importa é a aplicação dos valores e os princípios e não a forma como as empresas irão transformar Métodos Ágeis em business”, ressalta.
Em sua apresentação, o designer também destacou que não será possível transformar empresas e organizações ao enxergar práticas e ferramentas apenas como estratégias de comunicação. Por isso, torna-se essencial ressaltar o papel do Manifesto Ágil.
“Atualmente, falamos muito em métodos e os indivíduos e as interações acabam sendo esquecidos nesse diálogo. Lembre-se que todo o sistema que funciona corretamente possui uma gestão de conhecimento ágil internalizada. Isso é fundamental para que as pessoas consigam trabalhar de forma transparente, colaborativa e em rede”.
Outro ponto defendido por Queiroz no Segundo Startup Class de 2021, foi o de que agilidade e velocidade não são sinônimos, pois ser ágil é na verdade ser adaptável. “Quando começamos a entender que para ser ágil precisamos ter uma cultura de interações, começamos a abrir espaço para novas descobertas. A colaboração parte do princípio de que a voz de todos importa. Logo, precisamos encarar feedbacks como oportunidades e não como críticas. Afinal, queremos que o erro seja um aprendizado, pois ele nos faz entender necessidades e enxergar melhorias”.
O primeiro passo é compreender que os erros são oportunidades para aprimorar serviços e produtos. Experimente contar a sua ideia de startup para cem pessoas, certamente você irá receber diferentes feedbacks e, quem sabe, surgirá alguém interessado em fazer parte do seu projeto.
Existe um conjunto de fatores que precisam ser colocados em prática para que possamos começar a construir marcas com um pensamento ágil e não apenas por meio de ferramentas ágeis. A agilidade precisa de um ambiente sustentável, conectado a forma de pensar e agir das empresas.
Segundo Queiroz, muitos profissionais ainda questionam o funcionamento do Kanban e do Design Thinking, por isso, o designer defende que um dos princípios mais essenciais é a simplicidade. “Já parou para pensar na quantidade de trabalho executado que não precisava ser feito? Quais são os requisitos para determinar o que precisa ser feito? Para encontrar essas respostas precisamos considerar a cultura organizacional e isso pode nos tornar menos criativos, produtivos e ágeis. Não há evolução sem pequenas ações coletivas. Além disso, queremos ser ágeis e não velocistas”.
Para o designer, esses conceitos funcionam para todos, visto que as ferramentas dependem de contexto, verbo e ação. Entretanto, é essencial ter em mente que esse conhecimento está em constante evolução. “Se analisarmos bem, os Métodos Ágeis dizem mais sobre a forma como pensamos do que sobre as ferramentas que utilizamos. Sendo assim, eles podem ser adotados em qualquer área e setor. Porém, lembre-se de definir quais serão os valores aplicados”.
O CEO da SoftDesign, Osmar Pedrozo, sempre acreditou muito em métodos. Afinal, eles auxiliaram na construção da SoftDesign, que em 2021 completa 24 anos de história. “Nós trabalhamos há muito tempo com tecnologia e desenvolvimento de software e somos guiados pelo nosso tripé, design, agilidade e tecnologia, que nos ajuda a trabalhar com negócios digitais”, contextualiza Pedrozo.
Depois de obter certificações que comprovam sua excelência e qualidade na indústria de software, a SoftDesign começou a buscar – de forma moderna e ágil – novos modelos de negócios focados no sucesso do produto. Foi nesse período, em 2015, que os Métodos Ágeis começaram a efetivamente apoiar os processos de inovação da empresa, considerando tempos de ciclos e cerimônias.
De acordo com o CEO, é complexo sair de um modelo prescritivo para um mais adaptativo quando se trabalha com diferentes tipos de empresas. Por outro lado, o que trouxe as startups para o time de clientes da SoftDesign foi justamente o fato desses empreendedores possuírem um mindset mais adaptável.
“O grande desafio sempre foi cultural. Conseguimos vencer isso internamente e criamos grandes parcerias com startups. Além disso, levamos essas ideias para novos e grandes clientes, que também abraçaram o Método Ágil”.
Pedrozo considera-se um entusiasta da tecnologia e dos métodos e além de ser certificado nessas áreas, também ministra aulas sobre esses assuntos. “Me considero um apaixonado pelo Método Ágil e pelo Desenvolvimento Enxuto, que possuem um impacto muito transformador no universo das startups e da comunidade”, expressa.
Para Bruno Bastos, membro da diretoria da AGS e host do Startup Class, existe muita discordância no que diz respeito ao que realmente pode ser considerado uma startup. Bastos explica que em seu conceito de origem, “startup é uma organização temporária que busca por um modelo de negócios escalável e repetível”. Porém, existe uma outra vertical que diz que “é uma instituição humana projetada para criar produtos e serviços inovadores, em um ambiente de extrema incerteza”.
De acordo com Bastos, uma parcela considerável das empresas tradicionais não caminhou em conjunto com o desenvolvimento e com a agilidade de processos. “As startups já nascem na nova economia: ágeis e digitais. Devido à pandemia, existem muitas empresas com o desafio de se digitalizar, por isso, eu questiono: é mais fácil para uma empresa tradicional estabelecer processos e métodos ágeis?”.
Para Pedrozo, o mais importante é o jeito de pensar o problema, visto que geralmente inovar e estruturar um produto novo ou melhorado é algo complexo tanto para a empresa grande quanto para a pequena. “Penso que o design é um grande aliado nesse processo de descobrimento. Ao olhar para um problema, passamos a compreender o seu grau de complexidade e é nessa fase que precisamos definir se usaremos um método mais Ágil ou Tradicional”.
É fundamental pensar qual deve ser o kit de conhecimentos utilizado de acordo com a natureza da inovação do projeto: incremental ou radical. “Tudo está conectado ao mindset. Se você tem uma empresa tradicional grande fazendo transformação digital sem um setor de P&D ou sem saber lidar com tecnologia, certamente esse processo será muito mais dolorido”, pondera Pedrozo.
De acordo com o CEO da SoftDesign, empresas mais tradicionais que ainda não estão totalmente familiarizadas com tecnologia, enfrentaram uma situação muito delicada no início da pandemia da Covid-19, pois precisaram digitalizar rapidamente. Lembre-se que quando o assunto é transformação digital o que realmente importa é o mindset e a cultura da empresa, o porte não é considerado um fator limitante.
As startups já nascem digitais pois não existe outra opção. “Essas empresas querem criar plataformas e negócios inovadores. Ou elas pensam como uma empresa inovadora ou não haverá razão de existir. Eu considero esse caminho muito natural, pois é uma estratégia de sobrevivência para as startups, já que elas não possuem os mesmos recursos de empresas tradicionais e de grande porte”.
A maior barreira apontada por Pedrozo é a cultural, visto que tanto um CEO de uma empresa tradicional quanto um ‘startupeiro’ pode pensar de maneira equivocada sobre metodologias ágeis: querer inovar utilizando métodos antigos.
“É importante questionar o que e como estou fazendo, para não desenvolver algo novo de um jeito velho. No mercado, existem muitos donos de empresas grandes com cabeça de startup e muitas startups com pensamento de empresas tradicionais”, alertou.
Queiroz concorda que muitas startups já nascem tradicionais, sendo assim considera que a inovação está na mente das pessoas. “Existe muita inovação acontecendo fora do mundo das startups. Qual o vocabulário que podemos começar a adotar para conectar startups com empresas tradicionais? Hoje, não estamos conversando. Vejo muitas startups falindo por falta de amadurecimento, de estratégia e administração. Precisamos unir o tradicional ao novo para expandir a inovação”.
Para o designer é fundamental julgar a situação a partir do contexto em que estamos inseridos e não necessariamente com os olhos voltados para potências como Israel, São Francisco e China. “Como eu posso inovar? Acredito que em alguns casos é possível inovar até por meio de conversas. Para algumas pessoas, dominar o uso de uma planilha de Excel pode ser a maior inovação nesse momento. Sendo assim, como conseguimos unificar esse discurso para buscar inovação no lugar de exclusão?”, questiona Queiroz.
Segundo o CEO da SoftDesign, se estamos no momento de estruturar ideias e tentar buscar soluções as técnicas de Design Thinking são o ideal. O primeiro passo é analisar o problema e tentar sair desse cenário mais incerto, por meio de pesquisas ou técnicas de validação. Então, torna-se possível passar para uma próxima etapa de desenvolvimento (No-code ou Low-code) e, por fim, parte-se para a escolha de ferramentas, métodos e equipes.
Pedrozo salienta que já será necessário tentar validar o produto, logo o método deve ser usado ‘as it is’. Além disso, não crie times muito grandes, afinal boa parte das startups não possuem capacidade para absorver essa demanda. “O Kanban atende a diferentes tipos de chamados dentro da operação de desenvolvimento e suporte. Isso ajuda a organizar o time e a atender a startup, mas esse método não é o mais recomendado para a etapa inicial de desenvolvimento”, alerta.
Ao começar a registrar chamados diferentes será necessário migrar para um outro método. Nessa etapa, o principal foco é aprender ao longo do processo. “Eu vejo muita startup querendo ficar rica com um MVP. Se eu pudesse dar um conselho seria: não faça isso! Em primeiro lugar, valorize o aprendizado, depois evolua para um método de desenvolvimento orientado (Scrum). Começou a atender as diferentes demandas de desenvolvimento, de operação, de suporte e de marketing? Então migre para o Kanban”, orienta Pedrozo.
Sobre o tamanho da equipe, o CEO da SoftDesign sugere times mais enxutos e multidisciplinares, compostos por desenvolvedores, designers e Product Owner (PO), que irão auxiliar a pensar no produto como um todo.
“Lembre-se que fugir do método e tentar adaptá-lo será como criar mais um risco para o negócio. Ao fazer isso, você nunca saberá se foi o produto que deu errado ou se foi o método que te atrapalhou. Reduza as variáveis de risco e considere essa linha de raciocínio para todos os tamanhos de empresas”, sugere.
De acordo com Osmar Pedrozo, precisamos ter em mente que o que está sendo desenvolvido atualmente são produtos e serviços digitais. Sendo assim, o foco deve estar direcionado ao produto e não à gestão do projeto. Podemos ser um excelente gestor de projetos focados em entregar no prazo, dentro do escopo e do custo combinado, mas nesse momento estamos buscando inovação e não a conformidade do negócio.
O CEO da SoftDesign destaca que a carreira de Product Manager (PM) está muito em alta no mercado de TI e que essa será uma das profissões do futuro. “Se um time ágil não tiver um bom Product Owner (PO) teremos dificuldades no mercado. Precisamos parar de pensar conformidade para começar a pensar em inovação. Para alcançar o sucesso, o produto precisa ter Market Fit. Logo, sugiro que interessados no setor aprendam sobre Discovery, Design e se desenvolvam como Product Managers e Product Owners para apoiar a inovação de um jeito novo”.
Dreyson Queiroz acredita que uma das novas profissões do futuro será a de Gestor de Serviço. “A prestação de serviços no Brasil possui um alto índice de queixas por parte dos consumidores. Essa dor é visivelmente identificada nas redes sociais e no site Reclame Aqui. Por esse motivo, precisamos olhar para a usabilidade do serviço. Se você realmente quiser inovar comece questionando como é possível entregar um serviço melhor. Afinal de contas, não adianta criar a melhor startup do mundo e demorar três semanas para enviar um orçamento”, conclui.