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Transformação digital: não se engane

Por 29/09/2020 15/12/2023 6 minutos

Negócios pequenos, médios e grandes estão, neste momento, com a mesma preocupação: entender como mudar suas organizações para tornar a inovação digital uma realidade. Com o nosso trabalho de desenvolvimento de produtos digitais, acompanhamos diversas empresas nessa jornada, e iremos compartilhar aqui alguns dos enganos que podem levar à frustração no processo de transformação digital.

1. Transformação digital não é adotar o Scrum

Hoje, parece estar claro que um dos pilares da transformação digital é a agilidade. Porém, muitas organizações criam projetos de transformação digital que, basicamente, consistem em treinamentos de Scrum e na adoção do método dentro de algumas equipes – com a crença de que ao fim dessa adesão, estaria concluída a transformação.

Ainda que a agilidade seja, de fato, essencial para responder rapidamente às mudanças e entregar valor, sozinha ela não torna uma empresa digital.

O resultado alcançado com a prática desse engano é facilmente encontrado: empresas aonde o time de desenvolvimento trabalha realizando entregas frequentes, porém os gargalos existentes à montante e à jusante impedem a entrega de valor efetiva. Um exemplo clássico é quando as entregas ficam prontas rapidamente, mas o processo de deploy é manual, burocrático e lento. Ou ainda, quando o processo de avaliação de oportunidades e priorização é feito em um ciclo anual de planejamento, o que resulta no trabalho em cima de produtos que, eventualmente, já estão com uma estratégia obsoleta.

Nossa sugestão neste caso é que você entenda a necessidade de adotar a agilidade em toda a cadeia de valor. Algumas dicas importantes:

– Para entender o que está acontecendo na sua empresa, conheça a Lei de Evan sobre os gargalos da agilidade;

– Estude sobre kanban, lean e desenvolvimento enxuto e conheça o seu fluxo de valor;

– Evolua DevOps: remova os gargalos para entregar o valor que seu time gera;

– Pesquise sobre portfólio ágil: muitas organizações já estão criando maneiras de lidar de forma mais ágil e em ciclos com a identificação e seleção de inciativas – você pode aprender com esses cases e desenvolver um modelo adequado.

2. Transformação digital não é aplicar uma solução

Novas soluções estão surgindo a todo momento, cada vez com mais velocidade e maior capilaridade. Surgem novos produtos, serviços ou conceitos que se tornam buzz words, e acabam criando nas organizações a sensação de dívida, de estar ficando pra trás. Assistimos a esse fenômeno com o mobile, o cloud computing, os chat bots e a IoT – quando todos estão falando sobre isso, é normal que as empresas se sintam obrigadas a se posicionar.

Eventualmente, isso cria um engano: a ideia de que a transformação digital consiste em adotar a solução da moda.

Quando o negócio cai nesse conto, percebemos que há um grande esforço nos projetos para adotar determinadas tecnologias. Expectativas são depositadas nesses projetos, e eles são planejados detalhadamente e já tem um escopo e data definidos. A frase “este projeto não pode falhar” começa a ser ouvida.

Como a tecnologia é nova e existem riscos envolvidos, o projeto demora mais e tem maior custo do que o planejado. Ao final, a tecnologia nova está implantada, mas não mudou o negócio nem a experiência do cliente.

Não fica claro se o projeto foi um sucesso, pois o foco estava em implantar a tecnologia (output) e não em atingir algum resultado específico com isso (outcome). A consequência é uma sensação de que a área de tecnologia não gerou muito resultado e demorou demais para entregar.

Para não cair nesta armadilha:

– Primeiro, é importante lembrar que qualquer tecnologia só deve ser adotada com um objetivo claro: resolver um problema dos clientes, melhorar uma jornada, oferecer um novo serviço, etc. Assim, fica muito mais fácil saber o que é sucesso e o que não é, e torna possível que haja flexibilidade no escopo do projeto, porque o importante é atingir o objetivo;

– Segundo, é relevante considerar que a cultura de experimentação faz parte da transformação ágil. Você não deve entrar em empreitadas longas e prescritivas para fazer coisas inovadoras, mas sim pensar em uma série de pequenos ciclos de experimentação e aprendizado que podem levar você até o objetivo.

3. Transformação digital não é um projeto

Retomando a definição clássica do Project Management Institute (PMI), projetos são iniciativas com início e fim bem definidos, que entregam um produto ou valor único. Quando o ímpeto de transformar atinge uma empresa, é muito comum iniciar um projeto, designar um gerente e aguardar os louros.

É claro que dentro da sua transformação você pode ter projetos que vão entregar itens específicos, como novas capacidades ou mudanças estruturais. Porém, a transformação digital é algo muito mais contínuo. Vê-la como um projeto poder trazer uma distorção importante: as pessoas vão ter a sensação de que ela acaba, tem fim, e que após há o retorno para um estado de calmaria.

Oras, transformação digital é sobre desenvolver a capacidade de se transformar continuamente – sempre experimentando novas soluções e avaliando o valor que elas entregam para o negócio.

Quando uma empresa comete esse engano, é comum enxergar uma fase de grande agitação – com treinamentos, workshops, implantação de novas ferramentas ou tecnologias, etc. Depois, há uma volta aos processos normais do dia a dia.

Ao invés disso, encare a transformação digital do seu negócio de forma transformadora: use os conceitos de entrega de valor contínuo, ciclos curtos e experimentação para realizar essa jornada.

4. A transformação digital não vai fazer o seu time entregar mais rápido a lista de projetos

Esqueça sua lista de projetos. O mais provável é que eles estejam defasados em relação ao mercado, inchados com requisitos de pouco valor e planejados para a construção monolítica.

A transformação digital deveria habilitar sua empresa a trabalhar de forma mais contínua e suave. É a chamada cultura de fluxo contínuo de valor, ou o movimento #noprojects.

A ideia é não trabalhar mais com projetos, mas sim com times de entrega contínua, que tem um backlog de itens a realizar, sendo que esse pode ser revisado e repriorizado em ciclos muito mais curtos do que os tradicionais ciclos de escolha de projetos.

A ideia desse modelo, acredite, é garantir mais previsibilidade dos custos e prazos. Sim, porque se um time trabalha de forma contínua, os custos são fixos e previsíveis. E se esse time trabalha junto por um longo período de tempo, é muito mais fácil prever o que cabe em um ciclo de entrega. Além disso, com o planejamento em ciclos mais curtos, os itens são menores, o que gera menores erros de estimativa.

Além disso, essa forma de trabalho propõe reduzir o tempo de entrega, porque diminui a burocracia ou overhead que muitas empresas enfrentam no seu ciclo de especificação, defesa, escolha e iniciação de projetos.

Então, a sugestão é esquecer a sua lista de projetos, estruturar uma equipe de entrega contínua de valor e começar a quebrar esses projetos em itens bem menores, que realmente tenham valor agora, dentro de um backlog priorizado.

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Karina Hartmann

Karina é especialista em Inovação e Produtos Digitais, dedicando-se à concepção de novos negócios e soluções tanto para startups quanto para grandes empresas. Na SoftDesign, atua ainda como Líder em Product Management. Com mais de 15 anos atuando na área de Tecnologia, já desempenhou papéis variados, incluindo gerência de projetos, análise de sistemas, programação Java e melhoria de processos. É Mestre em Administração pela UFRGS, onde estudou métodos de desenvolvimento de produtos digitais inovadores. É Bacharel em Matemática Aplicada e possui pós-graduação em Governança de TI e Digital Business. Além disso, detém certificações CSM, PMP e CFPS.

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